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Recuo da inadimplência deve levar consumidor às compras

Os sucessivos recuos mensais nos índices de inadimplência mostram que o consumidor brasileiro recupera o fôlego para voltar às compras e, sim, se endividar novamente. O panorama, concordam especialistas ouvidos pela Agência Estado, é positivo para o consumo. “O nível de endividamento mostra que o consumidor está gastando no varejo”, disse a economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) Fernanda Della Rosa. “Há uma preocupação muito grande agora em liquidar as dívidas para poder comprar. O consumidor quer chegar ao Natal em condições de liquidez e a redução da inadimplência é salutar para o varejo”, reforça Fernanda.

Para Carlos Henrique Almeida, assessor econômico da Serasa Experian, o consumo e a atividade econômica do País, assim como os níveis de inadimplência, irão melhorar gradualmente até o fim do ano. “É claro que não vamos ter um Natal como tivemos em 2010, quando estava tudo indo muito bem. A melhora é gradual, mas vamos ter uma recuperação. A situação de hoje é mais animadora do que tínhamos no primeiro semestre”, disse Almeida. “O que importa é que a perspectiva é melhor do que tínhamos quatro meses atrás.”

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última quinta-feira, a alta das vendas do varejo em junho ante maio acima do esperado. O volume das vendas cresceu 1,5%, ante a queda de 0,8% do registrada em maio.

A projeção da FecomercioSP é de que o nível de endividamento fique entre 40% e 45% e a parcela de paulistanos inadimplentes seja de cerca de 10% no final deste ano, nível próximo ao registrado no fim do ano passado. Para a Boa Vista Serviços (administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito, o SCPC), a taxa de inadimplência do consumidor deve ficar próxima à registrada pelo Banco Central no ano passado, de 7,3%. As previsões da Serasa Experian também se aproximam das registradas em 2011: ao redor de 7% de inadimplência no fim do ano.

Comprometimento da renda

“O endividamento em si é bom, desde que isso esteja dentro da capacidade de pagamento do consumidor. O endividamento aumentou nos últimos anos porque o crédito aumentou”, afirmou o economista da Boa Vista Serviços, Flávio Calife. Para ele, o porcentual de endividados não é tão preocupante quanto o comprometimento de renda e a dívida média. “Se você tem um cenário em que os juros estão diminuindo e os prazos já aumentaram, há uma tendência de diminuição da dívida média.”

“Nossa preocupação não tem de ser com o endividamento, mas sim com o comprometimento de renda, que recuou. Em março, tínhamos comprometimento de renda de 22,18%, passando para 21,99% em abril e 21,85% em maio”, reforça Almeida, da Serasa.

A economista da FecomercioSP avalia que, embora pareça ter chegado a um nível alto, o endividamento está “relativamente estável”. “Na série da nossa Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (Peic), já chegamos a 72% de endividamento com 45% de inadimplência”, afirmou, ponderando que parte dessa alta pode ser reflexo do benefício de redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a linha branca e automóveis.

“A inadimplência teve um comportamento atípico neste ano”, afirmou Fernanda, explicando que o comum é que a inadimplência caia no meio do primeiro semestre à medida que as dívidas feitas no Natal são quitadas. “Em uma época em que tenderiam a cair, os níveis de endividamento e inadimplência subiram por causa dessas vantagens oferecidas pelo governo, como a isenção do IPI para linha branca, móveis e carros. Todo mundo começou a comprar para aproveitar esses benefícios.”

A tendência, concordam Almeida e Fernanda, é de que a inadimplência continue a cair. “Nosso indicador de perspectiva da inadimplência já mostrava uma expectativa de melhora gradual. Já conseguimos perceber perda de fôlego da inadimplência”, disse o economista da Serasa Experian.

Mas Calife, da Boa Vista Serviços, alerta para o número de registros de inadimplência no Serviço Central de Proteção ao Crédito, que continua subindo. “A diferença é que o número de casos de recuperação de crédito também sobe e a gente espera fechar com ano com a recuperação crescendo mais que os registros”, disse. “É bem possível que entremos em 2013 com inadimplência em queda.”

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