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Promessa que não se cumpriu

“Pai, por que todo mundo no colégio tem livro para estudar, menos eu?” Vinda do filho de dez anos, essa foi a pergunta mais difícil que José Luiz dos Reis ouviu em seus 41 anos de vida. Ele conta que se sentiu uma pessoa inferior. “Os outros pais fizeram a parte deles, e eu não.”

Apesar de ter salário de R$ 5,2 mil, Reis só pode usar R$ 600 por mês. O resto vai para os credores. Super endividado, o servidor, que trabalha há duas décadas no governo do Distrito Federal se arrepende dos empréstimos que fez. “Errei porque, quando a situação apertou, quis resolver tudo no banco.” No fim de 2012, Reis tentou renegociar sua dívida. A cada tentativa, aumentavam o número de parcelas e o valor final a ser pago.

“Usar a TV e falar que os juros estão baixos é muito bonito, mas quando você chega lá, descobre que é de outro jeito”, diz.

As tentativas de Reis aconteceram no mesmo período que os brasileiros viram o Banco Central fixar – e manter por seis meses – a mínima recorde da taxa básica de juros. De outubro de 2012 a março deste ano, a Selic foi de 7,25%, o menor porcentual da história. Mas o consumidor não chegou a sentir isso.

O preço que os consumidores pagam pelo crédito inclui, além da Selic, impostos, risco de inadimplência, gastos administrativos e lucro das instituições financeiras. “Se você vai emprestar dinheiro para o banco, será observada a Selic. Mas, se você precisa de dinheiro, vai pagar as taxas que a instituição quiser”, diz Donizét Píton, presidente do Instituto Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif).

Só os juros de empréstimos com garantia, como para compra de automóveis e imóveis, têm taxas menores. “Tanto no crédito de carro quanto no de casa, o emprestador tem garantia. Se você não paga, ele toma o bem. É diferente no caso do cheque especial ou cartão de crédito. Não acontece muita coisa se não houver pagamento do cheque especial, por isso é mais caro”, diz o professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral Rodrigo Zeidan.

A Andif, que desde 1997 moveu mais de 55 mil ações judiciais contra instituições financeiras, apontou os principais problemas enfrentados pelos brasileiros no relacionamento com os bancos. A cobrança de juros abusivos é o primeiro item, seguido pela inflexibilidade nas negociações. O instituto aponta que os funcionários que atendem os devedores estão preparados apenas para cobrar, e não para negociar. Os contratos, em geral pouco claros, também são alvo de problemas.

Fonte: EM

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