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Recuperação de crédito prevê crescer 20%

SÃO PAULO – O setor de crédito tem batido recordes. Um exemplo é a previsão da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), que acredita que o Brasil necessite, já em 2013, de R$ 100 bilhões de recursos adicionais para financiar o setor imobiliário. O Banco Central mostrou que o saldo, até setembro, de empréstimos para pessoa física chegou a R$ 519, 930 bilhões, um crescimento de 17,1% em 12 meses. Colado aos recordes, o setor de recuperação de crédito pressupõe crescimento de 20% ao ano, por um período de até 10 anos.

Dados da Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito (Aserc) mostram que o setor de recuperação movimenta R$ 8 bilhões por ano, emprega 300 mil trabalhadores em 15 mil empresas espalhadas pelo País. O faturamento destas empresas gira na casa dos R$ 300 mil, cada uma. A maior concentração dos serviços está no sudeste – 70%.

Ao DCI, o presidente da Aserc, José Roberto Romeu Roque, contou que os índices de inadimplência não crescem em termos percentuais, mas em números absolutos. “O que está em expansão é a vontade de consumir, e para isto é necessário crédito. Mas ele não é sempre bem utilizado.”

Hoje, a relação entre crédito e Produto Interno Bruto (PIB) chega a 45%. “Seguramente, o País pode chegar a 80% em 10 anos: seria um crescimento de 7%, na média. Agora, se a economia crescer 7% ao ano, o efeito do crescimento estará anulado.”

Ele complementa o raciocínio dizendo que o volume de crédito ofertado é muito robusto e não há dificuldade de administrar a inadimplência. “Não vejo possibilidade de bolhas, mas de trava no crédito. A simples manutenção do crédito é suficiente para segurar uma alta da inadimplência.”

Para Roque, o desenvolvimento do crédito depende do “jogo do crescimento” para se consolidar. “Podemos ter 10 anos de crescimento acelerado e vários de crescimento sustentado. O Brasil tem de crescer. Depende da distribuição da renda, da manutenção dos empregos. Pedala a bicicleta que ela fica em pé”, compara o presidente.

Quando questionado sobre o local do País onde se concentra mais a inadimplência, o presidente disse que não é possível identificar. “Temos de analisar o índice de probabilidade de pagar a dívida nos próximos 3 meses.”

De acordo com a Aserc, a média nacional de probabilidade de saldar a dívida em três meses é de 108,7 pontos, sendo o norte com a maior média: 109,7. “Os números estão quase 10% acima dos do ano passado. Mas isso não quer dizer que as pessoas vão pagar.”

Um dos motivos que ele avalia como fundamentais para as pessoas não pagarem é a má distribuição de crédito. “Quem dá o crédito pode dar errado. Precisa ter uma boa estratégia, pois a inadimplência faz parte.”

O presidente elege o vilão: a taxa básica de juros (Selic). Segundo ele, o raciocínio do consumidor é saber se a prestação cabe no bolso. “Se acontece um imprevisto, a pessoa não tem reservas, aí a taxa de juros é muito alta. Por isso a pessoa não consegue pagar as mensalidades.”

A estimativa da associação é de que a inadimplência do cartão de crédito chegue a 7%. “Não é alto, mas se comparado aos índices dos EUA antes da crise, de 3%, a história muda. Claro que as taxas de juros são bem menores”, diz.

Um setor que o executivo considera mais complicado analisar é o de automóveis. “A garantia do empréstimo é ruim. O auto se deprecia a cada mês. Com isto, as taxas são muito próximas às do cartão de crédito. É um empréstimo de prazo mais longo.”

Pessoa jurídica

A lógica de inadimplência da pessoa jurídica é diferente da observada na pessoa física. “A rigor, a pessoa física não deve se alavancar; quem faz isto é o empresário. A pessoa física tem renda, poupança e não precisa de capital de giro.” Roque lembra que na crise houve um enxugamento das linhas de crédito das empresas. “Não são as empresas que pagam mal. O que aconteceu foi que elas não estavam alavancadas e não puderam pagar.”

Ele destaca que o crédito para pessoa jurídica no Brasil é “nanico, e o espaço para crescer neste setor é gigantesco. Além desse ramo, vejo espaço para crescer no crédito imobiliário.”

O maior problema, segundo a avaliação de Roque, é que as taxas de juros para pequenas e médias empresas são muito altas. “Para micro e para grandes está resolvido. Se o governo quer crescer o Brasil sem taxas elevadas de inflação, temos de desenvolver estes nichos de empresas e produzir mais. É melhor as empresas produzirem mais do que elevar a Selic.” O segundo problema é a falta de bancos médios no mercado. “Os volumes ficam muito concentrados e a capacidade de gerir riscos é muito alta, porque não há diversificação.” Além disso, ele aponta a falta de relacionamento e de transparência entre bancos e empresas para melhorar o sistema. “As empresas não são preparadas para dar informações ao banco. Normalmente, as empresas buscam os bancos comerciais como se fossem um pronto-socorro. Aí pagarão altas taxas. Isto é ruim, pois o banco vira agiota.”

Se as empresas se preparassem, avalia, os empréstimos viriam com prazos maiores. “Os bancos precisam ser mais safos e aproveitar a época boa para fomentar negócios.”

Com os constantes recordes de concessão de financiamentos no País, o setor de recuperação de crédito pressupõe crescimento de 20% ao ano, por um período de até 10 anos.

Fonte: DCI

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